quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Museologia

Poderia divagar sobre o que são essas coisas a que denominamos museus, mas o meu intuito é outro; é escrever para ajudar a perpetuar a riqueza sentida na minha recente visita ao Museu Nacional Del Prado e ao Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, ambos em Madrid.

O primeiro que me apraz dizer é que não estava preparado. São museus riquíssimos que, sem um modelo de visita estruturado, correremos o risco de nos perdermos na imensidão e profundidade do que está a alcance dos nossos olhos. Eu não estava preparado. Eu sou um inculto da história de arte. Porém, sinto e gosto de sentir, e ambos os museus permitem sentir muito, talvez demasiado para alguém como eu.

O Museu Del Prado tem uma colecção vastíssima e está organizado por períodos e nacionalidades. Sendo eu um leigo nestas coisas, achei monótono a forma orgânica do Museu. Pareceu-me um museu concentrado na expressão plástica de um período mais medieval, renascentista e neo-clássico - provavelmente erro nestas definições-, mas é o que o meu raciocínio sente. A grande parte das obras são a pinturas a óleo, muito ao estilo flamengo ( mais uma arriscada definição) e baseada em temáticas sonolentas - Cristo na cruz, retratos de personagem, virgindade feminina,etc...

Apesar disso, achei verdadeiramente estimulante o sentir como as formas, as cores, as dimensões, a profundidade e as expressões faciais podem confluir num espaço rectangular com tamanha intensidade. Muitos destes pintores seriam grandes fotógrafos se vivessem noutros tempos.

Mais e menos?

Menos:

  1. Goya. Tinha muita expectativa mas fiquei frustrado com os seus retratos, tem algo de cómico e pouco perfeccionista (nomeadamente nos olhos), porém não o senti nada genial. Já a sua fase negra atraiu-me mais, mesmo assim, pareceu-me um enorme vazio escuro sem sentido, ou melhor, de sentido único. Esperava mais...Duas excepções: A Maja Vestida e a Maja Nua; Saturno Devorando Um Dos Seus Filhos; e 3 de Maio de 1808 em Madrid.
  2. Italianos em geral. Pouco inovadores; coerentes demais; saborosos mas sem sal. Excepções: Tiziano em geral, especificamente, Danae Recebendo a Chuva de Ouro; e o Cardeal de Rafael também me causou uma respiração mais lenta e atenta.
  3. Quadros flamengos, alemães e ingleses, pareceram-me ter uma expressão artística mais pobre. Rubens pela harmonia(As três graças), Van Dyck pelas profundidade das cores(Sir Edmond Porter e Antón Van Dyck) e El Bosco pela criatividade (A mesa dos pecados capitais e O jardim das delícias) foram claras excepções, mas o cansaço não permitiu mais.

Mais:

  1. Pintores espanhóis. Desconhecia a qualidade e quantidade deles. Velasquez é claramente um fotógrafo do pincel das mais variadas realidades sociais de então. Zurbarán apaixonou-me, Natureza-morta com quatro vasilhas ou Aparição do apóstolo São Pedro a São Pedro Nolasco, são bons exemplos disso. El Greco, Ribera e Murillo também me fascinaram e educaram.
  2. Curiosidade que as poucas as obras de Gainsborough e Anton Raphael Mengs fizeram despertar em mim.
  3. Fila de meia-hora, mas com bom ritmo e entrada gratuita ( celebração dos 31 anos da Constituição Espanhola), sempre bom para quem tem dilemas sobre onde gastar o curto orçamento.

Isto já está longo, deixo o melhor - Museu Reina Sofia - para outro post...


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