sábado, 27 de fevereiro de 2010

Escolha

A escolha torna a existência mais rica. A escolha torna a emoção mais instável. A escolha torna o que é belo mais verdadeiro.
A escolha permite-nos sentar, levantar e elevar, de certo modo, permite-nos existir, mesmo que rodeado e emparedado por paredes inexistentes.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Erasmus wisdom

“A good prince will tax as lightly as possible those commodities which are used by the poorest members of society: grain, bread, beer, wine, clothing, and all other staples without which human life could not exist", this was written 500 years ago by the "rationalist" Desiderus Erasmus. Wisdom and common sense are ageless.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Brancura

Um pedaço de gelo húmido pousa na minha mão, o seu toque é suave, o seu toque é efémero, não hesita em fundir-se com a minha pele em forma de água límpida.
As nuvens aqui ainda são puras, os humanos ainda não as mancharam com nódoas dos seus hábitos comodistas, displicentes, e economicistas.
Este gelo húmido de uma brancura suave traz paz a espíritos inconformados. Ao que resta do meu traz, apesar de não conseguir alcançar um consenso interno sobre a razão de tal efeito; provavelmente estará relacionado com a brancura, a mesma que envolve o leite e o transforma num néctar de pacificação nutritiva e estética.
Não podemos deixar que a neve deixe de ser branca...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Luminosidades ausentes

A beleza encontra-se na incerteza da luminosidade. Eu já fui belo, tive uma beleza que se ausentou após o desligar da luz artificial que na maioria das vezes ilumina as faces. Tornei-me num mero ser com essência mas sem alma.
A beleza está em quadros, a beleza está em frames e pixéis. A beleza está em tudo que é passível de ser transportado para o tempo posterior com o mesmo espanto do presente.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Remeniscências natalícias

O Gato

O gato pára mas não olha; sente e pára. Remete-se na sua pelugem, acaricia com a sua língua áspera o seu rabo, e continua no seu trajecto rotineiro pela fria e acolhedora cidade de Heidelberg.
Vi-o num daqueles dias em que a memória só existe em imagens. Num daqueles dias em a velocidade é a maior inimiga do sentir.
Tudo naquele dia era novo para mim. Porém, eu já tinha percorrido as calçadas disformes do centro histórico de Heildelberg. Eu já tinha sentido com a vista a força das águas do Necker a testar a resistência da ponte histórica – tantas vezes destruída e reconstruída. Eu já tinha absorvido as cores sonoras dos cantarolares natalícios que pautam a existência de cada esquina e de cada aglomerado humano durante esta época festiva.
Esse fluxo incontrolável de carcaças sorridentes sem vontade própria influenciada pelo desejo de mais (mais cor?); pela vontade de oferecer mais (mais cor?); pelo hábito de comprar mais (mais cor?). Esse fluxo já me perseguiu noutros quadrantes terrestres, no entanto, nunca o senti tão parte de um passado que já não me lembro como nesse dia em que o gato parou, não olhou, recolheu-se no seu volumoso pêlo e seguiu o seu caminho pela acolhedora e fria Heidelberg.




14 de Dezembro de 2009, Heidelberg

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Instruções para Salvar o Mundo

Instruções para Salvar o Mundo é o título de um livro de Rosa Montero, e que belo livro é para ajudar para baralhar e dar de novo as cartas da vida. Aqui vão alguns excertos:

"A vida era um campo minado e a qualquer momento, sem se aperceber, o taxista podia pisar uma lembrança que fazia explodir a tristeza, deixando-o surdo e mutilado, alagado no sangue da sua memória."

"Tudo o que aprendemos nas nossas vidas breves não é mais do que uma ninharia insubstancial arrancada à enormidade do que nunca saberemos."

"Mas no fim até as existências ruinosas e desnecessárias como a sua se obstinavam teimosamente em continuar a viver."

"Não há nada tão feroz como uma sociedade reprimida que reprime."

"...quando alguém diz «expliquei-lhe tudo», na verdade nunca disse nada, porque a existência é essencialmente inexplicável e a vida é o oposto da arte..."

"Por que será que não nos custa nada acreditar na ruindade, na crueldade e no horror do mundo, mas quando falamos de bons sentimentos imediatamente se nos desenha um ricto irónico na cara e os consideramos umas patetices?"

"...uma dessas raras relações que o tempo não destrói, mas alimenta. É que a Humanidade divide-se entre aqueles que sabem amar e aqueles que não sabem."