terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Remeniscências natalícias

O Gato

O gato pára mas não olha; sente e pára. Remete-se na sua pelugem, acaricia com a sua língua áspera o seu rabo, e continua no seu trajecto rotineiro pela fria e acolhedora cidade de Heidelberg.
Vi-o num daqueles dias em que a memória só existe em imagens. Num daqueles dias em a velocidade é a maior inimiga do sentir.
Tudo naquele dia era novo para mim. Porém, eu já tinha percorrido as calçadas disformes do centro histórico de Heildelberg. Eu já tinha sentido com a vista a força das águas do Necker a testar a resistência da ponte histórica – tantas vezes destruída e reconstruída. Eu já tinha absorvido as cores sonoras dos cantarolares natalícios que pautam a existência de cada esquina e de cada aglomerado humano durante esta época festiva.
Esse fluxo incontrolável de carcaças sorridentes sem vontade própria influenciada pelo desejo de mais (mais cor?); pela vontade de oferecer mais (mais cor?); pelo hábito de comprar mais (mais cor?). Esse fluxo já me perseguiu noutros quadrantes terrestres, no entanto, nunca o senti tão parte de um passado que já não me lembro como nesse dia em que o gato parou, não olhou, recolheu-se no seu volumoso pêlo e seguiu o seu caminho pela acolhedora e fria Heidelberg.




14 de Dezembro de 2009, Heidelberg

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